sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Volte filho que estou à sua espera


Em alguns pontos da minha vida, fui fundamentalmente tocado por um encontro profundo com Jesus Cristo. Foram experiências de apogeu, momentos de imensa consolação. Fui muitas vezes tomado de paz, alegria, confiança e amor. Tanto amor que não conseguia conter as lágrimas de constrangimento. Minha mente e coração ressoavam com maravilha e assombro. Fiquei profundamente comovido por horas, dias ou semanas, e eventualmente retornei às ocupações rotineiras da existência diária. Não permaneci resolvido.
Devagar ficava emaranhado nas exigências dos deveres “na igreja” ou na carreira profissional e nas distrações que nosso mundo oferece. Começava assim a tratar a Jesus como um velho amigo que amava intensamente, mas que pela distância e afazeres, muitos, não podia me dedicar tanto mais a ele, o qual gradualmente fui perdendo contato.
Acentuado pelo agnosticismo da negligência somado à falta de disciplina pessoal com relação ao bombardeio da mídia, o controle da mente, as conversas estéreis, a oração pessoal e a sujeição dos sentidos -, a presença de Jesus tornava-se cada vez mais remota, da mesma forma que a dedicação e atenção dissolve a confiança e a comunhão nos relacionamentos humanos, a negligência do Espírito desfaz o sentido do relacionamento divino.
Meus dias foram tornando-se cada vez mais triviais. Fiquei preso num labirinto frenético. Levantando quando o relógio determina. Isso quando dormia. Bombardeado por manchetes de jornais e e-mails. Extenuado por todas as operações mecânicas que nos lançam à atividade e produtividade. Testado pelo tráfego. Minha concentração interrompida por reuniões e pequenas crises. No fim de cada dia, rebobinava a mim mesmo: tráfego, automação, manchetes, até que o alarme do celular impunha o acordar para ir trabalhar. Rotinas de procedimentos alienados e repetitivos, relatórios e mais relatórios. Atenção total: para a auditoria. Pouco espaço para responder humanamente e com humanidade aos eventos diários, pouco tempo para adentrar a sabedoria e o vigor e a promessa de suas oportunidades. Sentia o mundo me sufocando, confinando e moldando-me.
Estabeleci e conformei a vida de piedade confortável e de virtude bem alimentada. Tornei-me complacente e passei a ter uma vida prática. Minhas débeis tentativas de orar eram repletas de frases pomposas direcionadas a uma divindade impassível. Até mesmo ocasiões de adoração tornaram-se triviais.
E este é o manquejar vitorioso freqüentemente vivido pelo escritor. Em momentos diferentes da jornada tentei encher o vazio que acompanha muitas vezes a presença de Deus através de uma variedade de substitutos: escrever, pregar, viajar, séries de televisão, filmes, sorvete, relacionamentos superficiais, esportes, música, devaneio, cerveja, conversas banais e piadas frívolas, não obstante o consentimento de muitas coisas das quais participei, etc.
Ao longo do caminho optei pela escravidão e perdi todo o desejo por liberdade. Amei meu cativeiro e aprisionei a mim mesmo por coisas que eu odiava. Abandonei a oração e fugi da simples santidade que o Espírito me guiava.
Num determinado dia, não longínquo, quando a graça me arrebatou e voltei à oração, de fato, mais um grito de socorro, meio que esperei que Jesus replicasse:  “Fabrício, voltaste?
Nenhum dos meus fracassos na fidelidade ao nosso Senhor mostrou-se terminal. Vez após outra uma graça às vezes, súbita agarrou-me das profundezas do meu ser, levou-me a aceitar a posse das minhas infidelidades e conduziu-me de volta a já não sei ao certo quantas tentativas de trilhar o caminho reto. Como diria, “Brennan Meaning,” reconhecer diante de Deus, de outro ser humano e de mim mesmo a natureza de minha transgressão.”
Quantas, não foram as vezes, como ontem, que pensei, “não há jeito para mim, com esse pecado que aos poucos me mata por dentro e tentei furtivamente voltar atrás e permanecer no erro”. Porém paradoxalmente a convicção da pecaminosidade pessoal toma-se ocasião para um encontro com o amor misericordioso de Deus redentor, em ainda que nada sou. Então me vem à mente palavras de Paulo, “porque quando estou fraco então sou forte. E disse-me: a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”
Quando o filho pródigo voltou à sua casa depois de sua prolongada farra de devassidão e vadiagem, bebedeira e promiscuidade, suas motivações eram, na melhor das hipóteses, incertas. O estômago do maltrapilho não estava doendo de remorso porque ele havia partido o coração do pai. Ele caminhou para casa simplesmente para sobreviver. Os amigos-da-onça haviam transferido suas lealdades quando o seu cofrinho se esvaziou. Desencantado com a vida, o gastador traçou o caminho de volta para casa, não ardendo de desejo de ver seu pai, mas de apenas permanecer vivo.
“E quando ainda estava longe, viu-o sei pai, e se moveu de íntima compaixão e correndo, lançou-lhe ao pescoço, e o beijou”. (Lucas 15:20). O pai tomou-o de volta como ele estava sem questionamentos ou austeros discursos de lição de moral.
Que parábola de encorajamento. Não temos de ser perfeitos, ou mesmo muito bons antes que Deus nos aceite: o perdão precede o arrependimento.

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