Em alguns
pontos da minha vida, fui fundamentalmente tocado por um encontro profundo com
Jesus Cristo. Foram experiências de apogeu, momentos de imensa consolação. Fui
muitas vezes tomado de paz, alegria, confiança e amor. Tanto amor que não
conseguia conter as lágrimas de constrangimento. Minha mente e coração
ressoavam com maravilha e assombro. Fiquei profundamente comovido por horas,
dias ou semanas, e eventualmente retornei às ocupações rotineiras da existência
diária. Não permaneci resolvido.
Devagar ficava
emaranhado nas exigências dos deveres “na igreja” ou na carreira profissional e
nas distrações que nosso mundo oferece. Começava assim a tratar a Jesus como um
velho amigo que amava intensamente, mas que pela distância e afazeres, muitos,
não podia me dedicar tanto mais a ele, o qual gradualmente fui perdendo
contato.
Acentuado pelo
agnosticismo da negligência somado à falta de disciplina pessoal com relação ao
bombardeio da mídia, o controle da mente, as conversas estéreis, a oração
pessoal e a sujeição dos sentidos -, a presença de Jesus tornava-se cada vez
mais remota, da mesma forma que a dedicação e atenção dissolve a confiança e a
comunhão nos relacionamentos humanos, a negligência do Espírito desfaz o
sentido do relacionamento divino.
Meus dias
foram tornando-se cada vez mais triviais. Fiquei preso num labirinto frenético.
Levantando quando o relógio determina. Isso quando dormia. Bombardeado por
manchetes de jornais e e-mails. Extenuado por todas as operações mecânicas que
nos lançam à atividade e produtividade. Testado pelo tráfego. Minha
concentração interrompida por reuniões e pequenas crises. No fim de cada dia,
rebobinava a mim mesmo: tráfego, automação, manchetes, até que o alarme do
celular impunha o acordar para ir trabalhar. Rotinas de procedimentos alienados
e repetitivos, relatórios e mais relatórios. Atenção total: para a auditoria.
Pouco espaço para responder humanamente e com humanidade aos eventos diários,
pouco tempo para adentrar a sabedoria e o vigor e a promessa de suas oportunidades.
Sentia o mundo me sufocando, confinando e moldando-me.
Estabeleci e
conformei a vida de piedade confortável e de virtude bem alimentada. Tornei-me
complacente e passei a ter uma vida prática. Minhas débeis tentativas de orar
eram repletas de frases pomposas direcionadas a uma divindade impassível. Até
mesmo ocasiões de adoração tornaram-se triviais.
E este é o
manquejar vitorioso freqüentemente vivido pelo escritor. Em momentos diferentes
da jornada tentei encher o vazio que acompanha muitas vezes a presença de Deus
através de uma variedade de substitutos: escrever, pregar, viajar, séries de
televisão, filmes, sorvete, relacionamentos superficiais, esportes, música,
devaneio, cerveja, conversas banais e piadas frívolas, não obstante o
consentimento de muitas coisas das quais participei, etc.
Ao longo do
caminho optei pela escravidão e perdi todo o desejo por liberdade. Amei meu
cativeiro e aprisionei a mim mesmo por coisas que eu odiava. Abandonei a oração
e fugi da simples santidade que o Espírito me guiava.
Num
determinado dia, não longínquo, quando a graça me arrebatou e voltei à oração,
de fato, mais um grito de socorro, meio que esperei que Jesus replicasse: “Fabrício,
voltaste?
Nenhum dos
meus fracassos na fidelidade ao nosso Senhor mostrou-se terminal. Vez após
outra uma graça às vezes, súbita agarrou-me das profundezas do meu ser,
levou-me a aceitar a posse das minhas infidelidades e conduziu-me de volta a já
não sei ao certo quantas tentativas de trilhar o caminho reto. Como diria,
“Brennan Meaning,” reconhecer diante de Deus, de outro ser humano e de mim
mesmo a natureza de minha transgressão.”
Quantas, não
foram as vezes, como ontem, que pensei, “não há jeito para mim, com esse pecado
que aos poucos me mata por dentro e tentei furtivamente voltar atrás e
permanecer no erro”. Porém paradoxalmente a convicção da pecaminosidade pessoal
toma-se ocasião para um encontro com o amor misericordioso de Deus redentor, em
ainda que nada sou. Então me vem à mente palavras de Paulo, “porque quando
estou fraco então sou forte. E disse-me: a minha graça te basta, porque o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza.”
Quando o filho
pródigo voltou à sua casa depois de sua prolongada farra de devassidão e
vadiagem, bebedeira e promiscuidade, suas motivações eram, na melhor das
hipóteses, incertas. O estômago do maltrapilho não estava doendo de remorso
porque ele havia partido o coração do pai. Ele caminhou para casa simplesmente
para sobreviver. Os amigos-da-onça haviam transferido suas lealdades quando o
seu cofrinho se esvaziou. Desencantado com a vida, o gastador traçou o caminho
de volta para casa, não ardendo de desejo de ver seu pai, mas de apenas
permanecer vivo.
“E quando
ainda estava longe, viu-o sei pai, e se moveu de íntima compaixão e correndo,
lançou-lhe ao pescoço, e o beijou”. (Lucas 15:20). O pai tomou-o de volta como
ele estava sem questionamentos ou austeros discursos de lição de moral.
Que parábola de encorajamento. Não temos de ser
perfeitos, ou mesmo muito bons antes que Deus nos aceite: o perdão precede o
arrependimento.
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